4.14.2009

A Sanita

Contar episódios antigos, passados no auge da vida futebolística não é fácil, na medida em que eles foram tantos… Mas descrever um ou outro mais caricato e “sui generis” pelo ridículo da situação e pela envolvência merece dar a conhecer.

Aí pelos anos 80, quando militávamos na primeira divisão da A.F.C., lá nos deslocámos nós para um encontro além Coimbra. Se a memória não falha, fomos ao Sourense. Nesse dia, por acaso, até almoçámos nas “louras” – lembrar-se-ão os mais veteranos dos nossos “leves almoços” nessa casa, ali junto ao Estádio de Coimbra e que nós tanto apreciávamos. Saíamos quase sempre de lá ,aquilo que na gíria se chama “bem compostos” e “à fartasana”. Almoço às 13 h para quem ia jogar às 15 h. As loucuras que se cometiam…

O “alivio”para este enfartamento, esse era resolvido nos pinhais que medeiam Coimbra e Soure. Só que nesse dia e para não variar, lá fomos nós aflitos e numa correria louca para chegarmos a tempo. Era o “despe-te e veste-te” em 5 minutos e quase sempre com a arbitragem no meio do terreno.E o senhor Serra a desesperar… Encaminhados para uma espécie de balneário, feitos em tabique e madeira de solho, espaço exíguo era um “tudo ao monte e fé em deus”. Recordo-me bem das inscrições feitas no rodapé onde pendurávamos a roupa nos pregos ferrugentos e curvados. Nomes como, PATO, FATOUCO, MANHIÇA , JUCA JANEIRO e até um EUSÉBIO (???) eram lidos no rodapé. O ZÉ PELOTA claro, não poderia deixar os seus créditos por mãos alheias e vá de colocar o seu. Então punha: PELOTA – A.D. NOGUEIRENSE (porque o Benfica não aproveitou). Risos e gargalhadas era uma constante entrecortadas por alguns “arrotos” do farto almoço. Mas não havia tempo para alívios.

Nesse dia, por acaso, até jogava a titular.De repente, acometido por fortes dores abdominais, só tive tempo de me retirar para uma espécie de WC que havia no balneário. Imaginem 1 m2 com uma sanita imunda, completamente atolada até ao assento sem possibilidades de um alivio rápido e “decente”. Fazer em pé, obrigava a uma ginástica fantástica. A solução passou por um poiso em cima da dita com um pé numa borda e pé na outra e esperar que a Natureza fizesse o seu trabalho.

Estava nestes preparos quando o saudoso Valério me chama para me“dar a táctica”. Respondi do referido WC, mas nesse instante um estrondo rápido e curto ecoou pelo balneário. A Sanita tinha partido ao meio e todo o seu conteúdo era derramado entre os meus pés e corria agora debaixo da porta. Apenas houve tempo para lavar com uma mangueirada dos joelhos para baixo, pois a trampa era tal que o fedor era insuportável.

Claro que tudo isto acompanhado por uma gargalhada geral. O pior foi que dentro do campo o Cardoso me “azucrinava” a cabeça com o dito episódio:
- Agora tens que cá ficar para pagar a sanita.

Acreditem que nem sei como joguei. Apenas sei que a ideia de ter que pagar a sanita me turvava o pensamento e me tolhia os movimentos.Estava deveras atrapalhado!
Só descansei quando me vi a caminho de casa e dentro da carrinha.
Acreditem que andei quase uma semana à espera de um telefonema para A.D.N. sobre o dito acontecimento por parte do Sourense.

Só sei que até hoje ainda sinto o cheiro insuportável nas meias e botas desse jogo.Da sanita,nunca mais ouvi falar…